terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

UM BREVE ESTUDO DA VARIANTE SVESHNIKOV DA DEFESA SICILIANA

Prezados leitores, esta partida que apresentarei a seguir considero muito instrutiva por apresentar alguns temas que presenciamos no cotidiano do meio enxadrístico. Preferi não me ater aos melhores lances da posição que provavelmente os computadores de análises dariam e sim colocar as possíveis idéias e planos que cada um teve durante a partida.

Desde que comecei a treinar o jogo de xadrez tive uma simpatia muita intensa pela fase de abertura, onde sempre acreditei que não cometendo erros estratégicos nesta fase conseguiria impor o meu ritmo na partida e levar o meio jogo e o final mais tranquilamente.

Durante a partida destacarei alguns aspectos como: A importância de estudar abertura e saber onde colocar as peças nesta fase para que tenha uma melhor estratégia e um plano de jogo mais efetivo; Dar coerência entre um lance e outro; Centralização das peças; Combinação; Sacrifício de peças e Desvio de defesa.

Claro que meu adversário Marcelo Senger conhece tudo isso pois atualmente seu rating catarinense de xadrez rápido é de 1828, mas o importante é salientar principalmente para o leitor que esta começando os estudos enxadrístico que os temas existem e estão ai pra ser usados.

Enfim vamos a partida.


Senger, Marcelo – Bitencourt, Evandro [B33]
Amistoso – Clube de Xadrez Criciúma
30 minutos nocaute

1.e4 c5 2.Cf3 Cc6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cf6 5.Cc3 e5

Este lance caracteriza-se Variante Sveshnikov da Defesa Siciliana.

6.Cdb5 d6 7.Bg5 a6 8.Ca3 b5 9.Cd5 Be7 10.Bxf6 Bxf6 11.Dd2

Para minha surpresa meu amigo joga uma novidade, nunca havia visto este lance nesta abertura. Nestas horas que devemos ter calma e achar a resposta adequada com intuito de deixar o adversário numa posição difícil de conduzir. Já havia estudado bastante esta abertura, com partidas de Kramnik, Kasparov, Mequinho e outros jogadores, porém nunca tinha visto a Dama branca parar na casa “d2”. Tem certas aberturas que as peças tem casas chaves para se instalar, neste caso seria preferível jogar 11.Bd3 para realizar o roque pequeno e deixar o rei em segurança, no entanto poderia ter reservado opções para a realização do lance de Dama para a casa “h5” onde vai em muitas variantes pressionando a ala rei e evitando “f5” ou “f3” evitando ao máximo que as negras realizem o lance libertador “d5”.
Imediatamente percebi que Senger queria fazer roque grande com a finalidade de colocar o rei em segurança no canto do tabuleiro e dobrar peças pesadas pressionando o meu peão atrasado em “d6”. Este plano me pareceu pouco coerente e arriscado, visto que meus peões na ala dama já estavam avançados, e meu bispo dama podendo ir a “g5” rapidamente explorando a exposta dama branca que acabara de ser colocada “d2”.

11.... O-O

Quando comecei a analisar e observar partidas de GM´s percebi que em certos momentos eles executavam lances que não pareciam ser tão lógicos, no entanto num dia estava analisando uma partida do GM Brasileiro Darcy Lima e observei uma comentário que me chamou a atenção e me fez entender o motivos destes lances que não pareciam lógicos a primeira vista. O comentário era mais ou menos assim: Darcy Lima poderia fazer um lance que iria força a partida e chegaria num final melhor, mas para que fazer isso se ele pode jogar outro lance e ver quais as intenções que o adversário tem no lance seguinte e mesmo assim chegaria num final de partida melhor. Conclusão: O xadrez é um jogo de idéias, quando conseguimos achar as intenções de nosso adversário maior a probabilidade de refutar os lances e de ganhar a partida.
Portanto realizei este lance com idéia de proteger o meu rei, começar um ataque rápido devido o atraso de desenvolvimento das brancas e insegurança do seu rei, e ver o que meu colega estava pensando realmente com o lance 11.Dd2.

12.c4

Aqui me pareceu muito incoerente o lance. Afinal, acredito que a Dama foi para “d2” para realizar o roque grande, o “c4” da oportunidade das negras abrirem a coluna “c” e abrir a diagonal “c1 a h6” para o bispo rei das negras.

12..... Bg5

Não perdendo a oportunidade de tomar a iniciativa e prosseguir um rápido desenvolvimento obtendo um fortíssimo ataque ao rei centralizado e a Dama que se apresenta exposta.

13.Dc3 Cd4

Aqui eu encontrei um interessante sacrifício de peão em troca do desenvolvimento, aproveitamento da coluna “c” aberta e a má situação da dama em “c3”.

14.cxb5 axb5 15.Cxb5 Be6

Continuando o desenvolvimento das peças.

16.Cxd4

Senhores leitores, uma coisa eu aprendi nos meus estudos, que o enxadrista deve sempre evitar em executar um ataque ou fazer uma combinação sem que seu desenvolvimento esteja completo ou melhor que o do adversário, e que o seu rei deverá estar devidamente protegido. Acredito aqui que Senger apenas analisou 16....exd4 17.Dxd4 com vantagem decisiva para as brancas. Porém.......

16.... Bxd5 17.exd5 exd4 18.Dxd4 Te8+

Aproveitando o rei no centro.

19.Be2 De7

Agora começa a surgir um dos temas táticos mais importantes em uma partida de xadrez: A CRAVADA. Acredito aqui que a partida está tecnicamente ganha para as pretas.


20.Dd3 Ta5 21.Rf1 Txd5

Nos deparamos novamente com dois dos temas mais lindo que se pode proporcionar em uma partida: SACRICÍCIO DE PEÇAS E DESVIO DE DEFESA. Aqui se a branca aceita o sacrifício leva mate em 3 lances: 22.Dxd5 Dxe2 23.Rg1 De1+ 24.Txe1 Txe1#

22.Dc4 Te5

A partir de agora as brancas perdem material ou levam mate e partida está ganha para negras.

23.f4 Txe2 24.fxg5 Te1+ 25.Rf2 De3# 0-1